
A Natureza da Sabedoria no livro de Jó
Em última análise, o livro de Jó apoia a imagem da sabedoria obtida de Provérbios e Eclesiastes.
Primeiro, aprendemos novamente que a fonte da sabedoria é Deus. Enquanto todas as personagens humanas do livro reivindicam a sua própria sabedoria no tratamento do problema do sofrimento de Jó, seus diagnósticos e remédios se mostram inadequados. A teologia da retribuição dos três amigos e de Jó baseia-se predominantemente na tradição dos anciãos. Enquanto esses quatro acreditam que o sofrimento é o resultado do pecado, Jó difere sabendo que seu sofrimento não pode ser atribuído a qualquer erro de sua parte. Ele está certo sobre isso, mas está errado em acreditar que Deus opera através de um princípio mecânico e absoluto de retribuição, a base sobre a qual ele inadequadamente acusa Deus de injustiça. A alegação pretensiosa de Eliú de uma sabedoria baseada numa inspiração espiritual acaba sendo apenas conversa fiada, nem mesmo digna de resposta humana ou divina. No livro de Jó somente Deus é sábio. No final, ele não explica por que Jó sofreu tudo aquilo, nem fornece uma solução para seu sofrimento; ele simplesmente afirma seu poder soberano e sua vasta sabedoria.
Em segundo lugar, aprendemos que a resposta humana adequada à sabedoria de Deus é submissão. Assim, o livro de Jó se une a Provérbios e Eclesiastes ao afirmar que os humanos devem temer a Deus. À medida que vemos Jó passando de um nível do temor do Senhor no início do livro para o que descrevemos como uma expressão ainda mais madura desse temor, notamos que o livro de Jó acrescenta a dimensão de que o sábio pode se tornar ainda mais sábio. Afinal, como diz Provérbios, “o temor de YHWH é o princípio do conhecimento” (Pv 1.7).
Enquanto estamos no assunto do temor do Senhor em relação à maneira como o livro de Jó termina, devemos abordar a tendência de alguns comentaristas de resistir à mensagem do livro canônico. Alguns o fazem reinterpretando as respostas de Jó não como uma submissão reverente, mas como uma repugnante compreensão de que ele não tinha outro recurso diante de tal “valentão cósmico”. Para alcançar essa leitura, seus proponentes devem impor significados às palavras hebraicas e gestos físicos de Jó para os quais não há apoio significativo. Outros simplesmente expressam desapontamento com o que consideram ser uma adição tardia a Jó, preferindo ler o livro sem referência aos discursos divinos e à resposta de Jó. Não se pode deixar de sentir que essas leituras são o resultado do “espírito da época” do final do século XX e início do século XXI na cultura ocidental.
Terceiro, e finalmente, a ênfase do livro na ideia de que o temor do Senhor é a resposta adequada à sabedoria de Deus demonstra, novamente, que a sabedoria é fundamentalmente o resultado de um relacionamento com Deus. Enquanto a sabedoria está em um nível conectado à habilidade prática de viver e em outro nível a uma construção ética, o livro de Jó, juntamente com Provérbios e Eclesiastes, promovem a ideia de que a verdadeira sabedoria tem um fundamento teológico.
Trecho extraído do livro “O Temor do Senhor é Sabedoria”, páginas 96 e 97.
O Temor do Senhor é Sabedoria: uma introdução teológica à sabedoria em Israel de Temper Longman III
Sobre o livro: A sabedoria desempenha um papel importante no Antigo Testamento, particularmente em Provérbios, Jó e Eclesiastes. Esta importante obra do renomado estudioso Tremper Longman III examina a sabedoria no Antigo Testamento e explora sua influência teológica nos livros intertestamentais, nos Manuscritos do Mar Morto e, especialmente, no Novo Testamento. Longman observa que a sabedoria é uma categoria prática (a habilidade de viver) , uma categoria ética (o sábio é uma pessoa virtuosa) e, mais fundamentalmente, uma categoria teológica (o temor do Senhor é o princípio da sabedoria).