Contentamento em um Mundo Descontente

Contentamento em um Mundo Descontente

Para o cristão, o contentamento é uma joia mais preciosa do que esse diamante vermelho extremamente valioso. Em 1642, o pastor puritano Jeremiah Burroughs pregou uma série de sermões sobre o contentamento cristão que foram reunidos e publicados em 1648, dois anos após sua morte. O título que os editores escolheram foi The Rare Jewel of Christian Contentment ( A Joia Rara do Contentamento Cristão). Ela leva o leitor a um poderoso desdobramento deste tema vital, começando com a afirmação do apóstolo Paulo em Filipenses 4.12, “Aprendi o segredo de viver contente em toda e qualquer situação” (NVI). Infelizmente, muitos cristãos no século XXI nunca se aprofundaram no tema do contentamento. Como a rocha lamacenta escavada na margem de um rio brasileiro, seu verdadeiro valor tem sido escondido de muitos olhos por séculos. Desejo que um número cada vez maior de cristãos experimente o tipo de contentamento que Paulo descobriu e o qual Burroughs tão habilmente descreveu. Seu valor na eternidade provará ser muito maior do que o do diamante vermelho. Por que eu digo isso? Considere o seguinte cenário hipotético: imagine que você acabou de ganhar o prêmio de sorteio mais extraordinário de todos os tempos, mas ele veio por meios sobrenaturais. Vamos chamá-lo de “Agência de Viagens Faustiana”, de propriedade e operada por um certo Sr. Mefistófeles.

O prêmio é uma viagem de duas semanas com todas as despesas pagas em qualquer parte do mundo. Você ficará nos hotéis cinco estrelas mais caros, comerá a comida da melhor qualidade, feita pelos melhores chefs do mundo. Você verá o cenário mais espetacular, dirigirá os carros mais caros e usará um vestuário totalmente novo, feito sob medida para você. A viagem terá o melhor de tudo e atenderá a todos os seus caprichos.

Mas aqui está a pegadinha: você teria que concordar em estar continuamente descontente em cada momento da viagem. Você faria isso? Duas semanas de descontentamento constante no cenário mais luxuoso possível? Para muitas pessoas, eu acho que a resposta pode ser bem clara: “De jeito nenhum! Por que eu iria querer ficar infeliz por duas semanas seguidas?” Na verdade, vemos muitas das pessoas mais elitizadas do mundo vivendo essencialmente esse tipo de tragédia na vida real. Atletas e famosas estrelas de cinema vivendo em mansões espetaculares em suas propriedades privadas em costas rochosas, com projetos arquitetônicos que maximizam a vista do nascer do sol ou do pôr-do-sol sobre o oceano. Apesar disso, vivem tragicamente descontentes, indo de divórcio em divórcio, viciados em drogas, entediados, até suicidas.

Inversamente, suponha que uma oferta diferente tenha sido feita a você, pelo seu Pai celestial. Ele está oferecendo uma dolorosa provação de sofrimento. Você será espancado publicamente, preso em um calabouço sombrio com seus pés em troncos. Você será privado de comida, água, cuidados médicos e até mesmo de luz. À sua volta estarão outros prisioneiros sofredores, o mau cheiro dos fluidos corporais humanos, e o tipo de desespero que vem quando o fim de sua agonia não está à vista. Mas você também será preenchido com um contentamento tão sobrenatural por meio da presença de Deus que mais tarde você se lembrará daquela época como um dos momentos mais doces de sua vida. E você terá o privilégio de levar uma família inteira a Cristo (ver At 16.16-34). Qual oferta você aceitaria? Se você é cristão, é possível que você escolha a segunda experiência, apesar do alto custo que a acompanha. E se assim for, você provavelmente já concorda que o contentamento é o maior estado de bem-estar interior que alguém poderia ter nesse mundo.

O valor do contentamento é superior a qualquer outro que o diamante vermelho possa trazer. No entanto, apesar do valor desse rico, pleno e contínuo contentamento, e apesar do fato de ser possível que todos os cristãos do mundo o experimentem, essa joia requintada é rara em nossas vidas. E como o mundo não salvo precisa desesperadamente dos cristãos para descobri-la.

Nesse mundo trágico, estamos rodeados de pessoas descontentes. A cada minuto do dia, é possível ver evidências desse descontentamento inquieto na forma como elas reagem às circunstâncias. Mostram seu descontentamento enquanto dirigem, porque o trânsito é muito lento. Ou talvez o tempo esteja muito quente, muito chuvoso ou muito úmido. Ou em seus empregos as pessoas não es-tão sendo bem remuneradas ou recebendo crédito suficiente pelo trabalho árduo que realizam. Ou porque não suportam seus colegas de trabalho. As pessoas se sentem profundamente desapontadas com seus casamentos ou com a forma como seus filhos têm se saído. Seus corpos são muito gordos ou não são bonitos o suficiente. Atrapalhadas pelo descontentamento, as pessoas, muitas vezes, compram coisas das quais não precisam a fim de melhorarem suas perspectivas de vida. Muitos tentam encontrar seu caminho para a felicidade buscando em conselheiros a cura para suas infâncias disfuncionais. O descontentamento com o amor que não encontraram aparece nos seus olhos cobiçosos e errantes nas festas do escritório. Suas perspectivas escurecem quando essas pessoas pegam o trem metropolitano para mais um dia nos mesmos empregos que as tem aprisionado durante anos.

O descontentamento inquieto do mundo dos não cristãos não surpreenderá muitos crentes que procuraram ganhá-los para Cristo. Percebemos que a Escritura revela a verdadeira condição espiritual dos perdidos: eles estão “sem esperança e sem Deus no mundo” (Ef 2.12; NVI). As pessoas perdidas são “aflitas e desamparadas, como ovelhas sem pastor” (Mt 9.36; NVI). A escravidão delas aos poderes invisíveis das trevas (Ef 2.1-3) significa que compartilham com Satanás e com os demônios a mesma inquietação que as fazem vaguear pela terra, procurando constantemente algum tipo de descanso, mas sem encontrar nenhum (Jó 1.7; Mt 12.43). A condição espiritual dos perdidos e a escravidão ao pecado garante que eles nunca poderão encontrar o verdadeiro descanso e a verdadeira paz, essenciais para o genuíno contentamento. Isaías o disse claramente: “Mas os perversos são como o mar agitado, que não se pode aquietar, cujas águas lançam de si lama e lodo. Para os perversos, diz o meu Deus, não há paz” (57.20-21).

Esse descontentamento agitado dos incrédulos explica muitos dos terríveis eventos que acontecem no planeta Terra. Governantes poderosos, descontentes com o tamanho de seus domínios, saem em conquistas gananciosas, deixando um rastro sangrento de morte e destruição ao longo das páginas da história. Todo crime que rasga a trama da sociedade vem de pessoas descontentes, viciadas em drogas, álcool, dinheiro, poder ou prazer sensual e que estão dispostas a destruir a vida de outras pessoas para conseguir o que suas almas inquietas exigem. Todo casamento que termina em divórcio começa essa trágica jornada em um coração descontente. Embora não possamos dizer que cada miséria nesse mundo comece com o descontentamento humano, podemos afirmar com segurança que todo o sofrimento do mundo é exponencialmente intensificado pelo fracasso em encontrar um genuíno contentamento em meio a toda e qualquer circunstância.

Como cristãos, não devemos nos surpreender com nenhum desses diagnósticos do mundo incrédulo. Mas a grande tragédia é que muitas vezes não parecemos viver de maneira muito diferente. Muitos cristãos quase nunca experimentam o gosto diário do céu provido pelo Espírito Santo que vive dentro de nós (Ef 1.13). Muitos demonstram altos níveis de descontentamento em todas as mesmas circunstâncias que acabo de listar, e em inúmeras outras. Muitos de nós estamos inquietos, buscando algo de valor em nossa vida, mas sem encontrar. Muitos são espiritualmente imaturos, incapazes de lidar até mesmo com as menores aflições e inconveniências sem verbalizar nossas queixas a quem quer que as escute. Muitos cristãos vivem tão descontentes que nunca são solicitados por nenhum dos descrentes igualmente descontentes que os cercam pois, não conseguem apresentar uma razão para a esperança que eles têm (1Pe 3.15), porque evidentemente eles não têm nenhuma esperança. O que torna isso ainda mais surpreendente é que, por mais de dois séculos e meio, os desenvolvimentos na ciência, na indústria, na economia e na medicina têm reduzido de forma constante e sistemática as misérias físicas comuns a todas as gerações precedentes da humanidade.

A Revolução Industrial trouxe um progresso tecnológico surpreendente ao mundo, resultando em dispositivos que economizam mão de obra, novas fontes de energia, avanços surpreendentes nos transportes, encanamentos internos e casas com fiação para eletricidade. Aquecimento e ar-condicionado regulam a temperatura que nos cerca em quase todos os momentos. Os refrigeradores nos permitem manter os itens perecíveis mais frescos por mais tempo, os e sistemas de entrega das terras agrícolas para nossas casas garantem que um fluxo constante de alimentos deliciosos e acessíveis manterá nossas famílias comendo como a realeza. Os pesquisadores médicos nunca param de procurar remédios para doenças e enfermidades que tornam a vida tão miserável. E temos uma clara expectativa de que alguém, em algum lugar, está aplicando a genialidade tecnológica para remover da vida diária toda e qualquer aflição dolorosa. Dizemos: “Se fomos capazes de colocar um homem na lua, certamente poderemos curar a gripe comum”. A revolução digital tem sido um milagre da ciência moderna e nossos smartphones impressionantemente pequenos trazem o mundo inteiro às nossas mãos instantaneamente.

No entanto, apesar de todos esses avanços, estamos mais descontentes do que nunca. Gregg Easterbrook escreveu um livro exatamente sobre esse tema intitulado The Progress Paradox: How Life Gets Better While People Feel Worse (O paradoxo do progresso: Como a vida melhora enquanto as pessoas se sentem pior). Nos países do Primeiro Mundo, ele argumenta que, apesar dos avanços que acabou de catalogar, tenham melhorado materialmente o nível de conforto físico de todos nessas sociedades, os índices de depressão e psicose continuam a aumentar. As pessoas veem que suas vidas não têm sentido e parecem não conseguir encontrar nenhum remédio para combater a praga de seu próprio descontentamento consistente. Um exemplo claro é o transporte de longas distâncias. Nunca foi tão fácil, e mesmo assim ainda reclamamos! Lembro-me de ter estado recentemente em um terminal de aeroporto novinho em folha, lendo um registro histórico dos Peregrinos no Mayflower atravessando o Atlântico Norte em condições perigosas, em novembro de 1620.

Essas pessoas intrépidas viveram por muitas semanas na área escura e lotada abaixo do convés, comendo biscoitos frios e suportando o fedor do vômito causado pelo movimento do pequeno navio incessantemente agitado. Uma mulher até deu à luz nesse ambiente. Enquanto eu lia esse livro, ouvi um homem de negócios, bem vestido, falando ao celular com imenso aborrecimento: “Sim, foi um pesadelo total! Estávamos sentados na pista por mais de uma hora antes de finalmente decolarmos! Agora eu provavelmente vou perder meu voo de conexão!” A voz dele se afastou enquanto passava por mim, e ri comigo mesmo da perspectiva dele. Ele certamente não estava pensando como somos abençoados por sermos capazes de cobrir milhares de quilômetros por via aérea no espantoso conforto de um jato moderno. Não precisamos embarcar em um minúsculo veleiro de madeira e atravessar um oceano aterrorizante. Também não temos que carregar um vagão Conestoga (transporte utilizado no final do século 18) com semanas de provisões e cruzar rios agitados em uma perigosa viagem até o Território do Oregon.

Outro fator que gera descontmento é que estamos mais conscientes do que nunca acerca da miséria geral da raça humana. Nossos smartphones nos ligam a aplicativos de notícias que nos mantêm atualizados sobre as principais ocorrências ao redor do mundo, derramando um fluxo constante de sofrimento em nossa consciência. Estamos imediatamente cientes de um devastador terremoto no Oceano Índico e do subsequente tsunami que extermina comunidades inteiras e mata milhares de pessoas. Ou ouvimos falar de mais um ataque terrorista em Londres, ou em Paris, ou em Madri que resultou na morte ou na mutilação de dezenas de pessoas. Além disso, lemos sobre um vírus para o qual não há cura, originado na África Ocidental e que ameaça se espalhar por transportadores humanos por meio de viagens aéreas para locais metropolitanos no mundo todo. Vivemos num mundo de miséria no qual pouquíssimos encontram contentamento duradouro.

É nesse cenário pulsante e em ebulição de infelicidade inquietante que desejo redescobrir a joia rara do contentamento cristão – primeiro, a partir das Escrituras e depois de Burroughs – e fazer brilhar sua antiga luz de forma radiante para o leitor do século XXI. O contentamento tem o poder de trazer paz sobrenatural e eterna fecundidade em toda e qualquer circunstância que enfrentaremos e é, portanto, muito mais valioso do que o deslumbrante diamante vermelho de Moussaieff. Minha tese para esse livro é que o contentamento cristão é encontrar deleite no sábio plano de Deus para minha vida e humildemente permitir que ele me dirija nesse processo. Meu objetivo é que mostremos mais consistentemente o contentamento cristão de forma que, no final, Deus será glorificado em nossas vidas diárias, seremos mais alegres, e nos tornaremos fontes de inspiração para aqueles que nos observam busquem o Salvador, o único por meio de quem eles podem ter esse mesmo contentamento sobrenatural.

Texto extraída do livro “Poder do Contentamento Cristão”

Em 1643, o pastor puritano Jeremiah Burroughs escreveu um livro intitulado The Rare Jewel of Christian Contentment (A Joia Rara do Contentamento Cristão) que tem tanta reverberação nos nossos dias marcados pelo descontentamento como teve nos dias do autor. Agora, o pastor e escritor Andrew M. Davis nos ajuda a redescobrir as verdades profundamente marcantes encontradas naquela obra tão esquecida de Burroughs. Com novas e poderosas ilustrações e um apurado senso de tudo que perturba os cristãos modernos, Davis nos desafia a confrontarmos as fontes do descontentamento em nossas vidas abraçando o ensino do apóstolo Paulo sobre o contentamento em todas as circunstâncias.

O pregador, o conselheiro e a congregação

O pregador, o conselheiro e a congregação

Na University Reformed Church, onde servimos, uma das fortes convicções é que o ministério do pregador e o do conselheiro não são tipos diferentes de ministério, mas o mesmo trabalho realizado de maneiras distintas e em cenários diferentes. Ambos são completa, fundamental e indubitavelmente ministérios da Palavra. Um pode ser mais proclamatório e monológico, ao passo que o outro pode se mostrar mais dialógico, mais de conversação, mas a variação na abordagem e contexto não ameaça a crença compartilhada no poder da Palavra de Deus para realizar a obra de Deus entre o povo de Deus. O que molda a nossa compreensão do ministério de púlpito é a forte confiança na necessidade, suficiência, autoridade e relevância da Palavra de Deus. E essa mesma confiança modela a nossa compreensão do ministério de aconselhamento.

A Palavra de Deus é necessária. Não podemos conhecer verdadeiramente Deus ou a nós mesmos a menos que Deus fale. Embora os cristãos possam aprender a partir das percepções dos que foram abençoados com a graça comum e dos que possuem a dádiva do raciocínio mais acurado e da observação, o cuidado das almas exige a revelação do Criador sobre essas mesmas almas. Nós pregamos e aconselhamos a partir das Escrituras não apenas porque elas nos apresentam algumas boas percepções, mas porque são as lentes através das quais devemos enxergar todas as coisas.

A Palavra de Deus é suficiente. Tudo que precisamos para a vida e a piedade, para a salvação e santificação já nos foi dado na Bíblia. Isso não quer dizer que as Escrituras nos falam sobre tudo o que precisamos saber sobre o que quer que seja, ou que exista um verso em algum lugar da Bíblia sobre cada um dos nossos problemas. A Bíblia não é exaustiva, mas suficiente. Não precisamos abandonar a Palavra de Deus quando enfrentamos a dureza e confusão dos fatos da vida. A Bíblia tem algo a nos dizer sobre a automutilação, a autodestruição e a autoestima. Não precisamos temer pregar e aconselhar a partir da Palavra de Deus sobre os recônditos mais obscuros do coração humano.

A Palavra de Deus possui autoridade. O Cristo, que também é Senhor, exerce o seu senhorio por meio da Palavra. Rejeitar a palavra de Cristo é rejeitar o próprio Cristo. Em dias repletos de sermões medíocres para cristãos medíocres, não podemos esquecer do que mais distinguia a pregação de Jesus da pregação dos escribas e fariseus: a sua autoridade. 

A Palavra oferece reivindicações definitivas, emite mandamentos e faz promessas de transformação de vida. Essas três realidades devem ser anunciadas com autoridade. Tal autoridade pode ser proclamada em alta voz ou num fraco sussurro; numa oração ou numa observação pessoal; com o dedo em riste ou de braços abertos. A autoridade não depende da personalidade ou da posição que a pessoa exerce na estrutura da igreja. A autoridade procede da Palavra de Deus, e o conselheiro, não menos do que o pregador, deve exercer essa autoridade sobre aqueles a quem ministra, especialmente sobre aqueles que prometem fidelidade a Cristo.

A Palavra de Deus é relevante. Os termos mudam. A ciência muda. As nossas experiências mudam. Mas os dilemas humanos continuam os mesmos; o divino remédio não muda e a verdade não muda. Essa afirmação torna a Palavra de Deus eternamente relevante. Qualquer obra que venhamos a realizar na igreja à parte da Palavra de Deus será algo de menos importância. Quando se trata de céu e inferno, as questões de pecado e salvação, questões de quebrantamento e cura, somos incapazes de efetuar qualquer transformação relevante. Essa é a razão da necessidade de dependência da imutável Palavra de Deus. Se Cristo é relevante – e que cristão ousaria dizer o contrário? – jamais poderemos ignorar o que ele nos diz. Nossas técnicas tem muito menos sabedoria do que pensamos, e há mais poder na Palavra de Deus do que imaginamos.

UM DUETO AFINADO COM O EVANGELHO

Eu (Kevin) amo a parceria na Palavra que compartilho com Pat. É animador e, infelizmente, raro em muitas igrejas – saber que a minha pregação no domingo será reforçada em nosso ministério de aconselhamento no decorrer da semana. Não preciso me preocupar se Pat trabalhará com um fundamento diferente ou procurará uma cura diferente. Ele é muito mais capacitado do que eu para responder perguntas, determinar tarefas de casa, liderar estudos bíblicos e ajudar com gentileza as pessoas na aplicação da Palavra de Deus aos seus problemas. Mas, embora Pat possa ser mais capacitado em seu contexto de ação, ele não faz nada substancialmente diferente do que eu faço no meu. Pat fala sobre fé, arrependimento, pecado, salvação, o evangelho, justificação, mentira, verdade, perdão, mandamentos, comunhão com Deus e união com Cristo – e são esses os mesmos temas que exponho no púlpito, semana após semana.

Gosto de pensar que minhas pregações facilitam o aconselhamento de Pat. Ele pode construir seu ministério a partir do que ensino, usar o que prego, e recordar as pessoas sobre os sermões das semanas anteriores porque, como ambos trabalhamos a partir da Palavra, terminamos dizendo as mesmas coisas. Sei que me tornei um pregador melhor porque Pat é um conselheiro excelente. Ouvir as perguntas que ele faz e sobre os casos em que está trabalhando me ajuda a ter certeza de que minha mensagem não apenas tem como objetivo anunciar a verdade, mas também cuidar das almas. É sempre mais eficaz pregar tendo em vista pessoas reais, dores reais, lutas reais e tentações reais. Estar envolvido nesse ministério de aconselhamento me obriga a pensar como o texto desta semana falará, por exemplo, àquele adolescente que sente atração pelo mesmo sexo, ou ao idoso que luta com amargura, o jovem casal que não vê mais esperança para o casamento, ou a esposa confusa que já não suporta o marido. Se os meus sermões não ajudarem no aconselhamento, significa que preciso refazer a minha abordagem na pregação. E se o aconselhamento da igreja for totalmente diferente em termos de conteúdo e fundamentação da exposição fiel pela pregação, decorre que tal aconselhamento da igreja é, provavelmente, bem diferente do que a Bíblia ensina. O pregador e o conselheiro que trabalham juntos, ensinando as mesmas verdades a partir da mesma Bíblia, às pessoas com as mesmas condições de coração, podem se tornar um dueto poderosamente afinado com o evangelho.

O PREGADOR E O CONSELHEIRO

Eu (Pat) tenho servido como diretor dos ministérios de aconselhamento na igreja University Reformed desde 2009. Quando Kevin se tornou o pastor, em 2005, descobrimos a nossa paixão comum pelo aconselhamento bíblico, e isso eventualmente levou à criação de um novo cargo de liderança de equipe para mim. Tenho tido o privilégio de servir ao lado de Kevin como presbítero, líder de adoração, pregação e encorajamento. A visão da Palavra que compartilhamos tem sido a fonte da alegria que sentimos no serviço comum a Deus e sua igreja.

Convicções compartilhadas
Uma das convicções que compartilhamos é o compromisso e a confiança na necessidade, suficiência, autoridade e relevância das Escrituras para auxiliar as pessoas a lidarem com seus sofrimentos e lutas de um modo que glorifique a Deus e traga crescimento espiritual – fazendo discípulos. Uma vez que um modo de definir o aconselhamento é “transformar discípulos em instrumentos úteis”, esse compromisso mútuo nos permite trabalharmos juntos de modo direto e indireto. Em meu material de treinamento de aconselhamento, explico que:

Conquanto fale de muitas maneiras, Deus falou definitiva, decisiva e autoritativamente por meio do seu Filho, conforme registram as Escrituras (autoridade). Embora a Bíblia não ofereça uma lista exaustiva de todos os problemas e soluções do aconselhamento moderno, ela oferece um modo abrangente de olhar e lidar com esses problemas e soluções (suficiência e relevância). Nenhuma “palavra,” modelo de aconselhamento, ou técnica terapêutica pode, com eficácia, despertar segundo a realidade de Deus, a profunda convicção do que há de mais terrivelmente errado conosco, o completo perdão e aceitação, a morte à natureza pecaminosa, a liberdade de escolha e a esperança de uma perfeição futura (necessidade).

Essas convicções compartilhadas sobre as Escrituras nos permitem ser, como Kevin escreveu, um dueto afinado pelo evangelho para auxiliar na transformação das pessoas. Apresento o que isso quer dizer nestes dois casos de aconselhamento.

Histórias de um dueto
A primeira história ilustra como a necessidade, suficiência, autoridade e relevância das Escrituras atuam em um problema psiquiátrico contemporâneo. A segunda conta como o pregador e o conselheiro trabalham juntos para ajudar um casal atribulado a encontrar graça para restaurar o seu casamento.

JAMES

James veio ao aconselhamento após lutar por alguns anos com Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC). Em nosso primeiro encontro, quando estendi a mão para cumprimentá-lo, ele me perguntou se eu lavara as mãos. Além da fobia de germes, James lutava com dúvidas sobre Deus e a própria salvação. Conforme James e eu nos encontrávamos, tornou-se mais e mais claro que havia pecados não tratados em seu passado e que a rejeição sofrida pelo rompimento do namoro recente com uma jovem o fazia se sentir impuro, provocando dúvidas e alimentando o TOC. Aquela vivência era muito dolorosa e confusa para ele. Foi uma alegria usar as Escrituras em Hebreus 9.14 para ajudar James a compreender melhor como o evangelho da graça se conectava às suas experiências internas e externas de impureza: “Muito mais o sangue de Cristo [o grande purificador] que, pelo Espírito eterno, a si mesmo se ofereceu sem mácula a Deus, purificará a nossa consciência de obras mortas [i.e., a compulsão de lavar as mãos], para servirmos ao Deus vivo!” (Colchetes adicionados).

Certo dia, James disse que, enquanto tentava lidar com seu problema, de alguma forma sua luta ainda lhe parecia muito mais física do que espiritual. Ele ainda não associara totalmente o seu TOC ao sacrifício purificador de Jesus. Foi nesse ponto que uma passagem obscura de Levítico, sobre a qual Kevin havia pregado em 2009, provou ser um elo valiosíssimo entre o senso de impureza física e a purificação espiritual. 

Lemos juntos Levítico 15, cujo foco é a secreção dos fluídos corporais (James tinha um problema especial com isso) e a cura de Deus para a impureza física. Eu enfatizei que mesmo as questões físicas precisavam de um sacrifício espiritual de expiação (Lv 15.13-15). Isso demonstra que tanto o nosso ser interior como o exterior estão relacionados e o modo como Deus proveu a solução purificadora para ambos. Aquilo pareceu despertar James e o animar, mas eu mal começara a compreender como aquela conexão entre as leis rituais do Antigo Testamento e o evangelho do Novo Testamento o ajudariam a se libertar do TOC. Uma semana depois, o pai de James me mandou um e-mail com cópia para os membros da família sobre uma conversa que tiveram no dia da nossa sessão de aconselhamento.

Na segunda-feira passada, após o encontro com Pat, eu levei James para a aula. Depois de um tempo estudando em silêncio na classe, ele começou a compartilhar comigo e falou durante 15 minutos sem parar sobre as referências das Escrituras que Pat e ele estudaram, na maior parte do tempo, concentrando-se na impureza descrita no Antigo Testamento em contraste com a pureza que temos diante de Deus por meio do sangue de Cristo. Conforme seguíamos, observei que James já não prendia as mãos daquele jeito estranho que fazia por semanas para não ter de tocar em algo. Também notei que ele decidira abandonar o hábito demorado e elaborado de lavar as mãos com o germicida como sempre costumava fazer. Desde aquele dia, dificilmente observo qualquer comportamento anormal da parte de James – não houve mais aqueles banhos demorados, nem a impossibilidade de ficar sem lavar as mãos. James me confidenciou: “Senti como se tivesse carregado um peso enorme todos esses anos.” As mudanças que tenho visto nele me sugerem que Deus o aliviou desse fardo.

Enquanto James cresce na graça e liberdade que lhe estão propostas, se faz notória a imediata relevância e o poder libertador da Escritura em fazer diferença definitiva no problema que dominava a sua vida!

FRANK E CARA

Se a história de James trata das convicções compartilhadas sobre as Escrituras, a história de Frank e Cara fala do ministério de auxiliar um casal na restauração do seu casamento após a infidelidade. Kevin disse, certa vez, com um sorriso jocoso: “Pat, eu faço a bagunça (na pregação) e você tem de arrumar tudo (no aconselhamento).” Eis como isso funcionou na vida de um casal.

Há alguns anos, Frank e Cara foram à igreja e ouviram Kevin pregar um sermão sobre pureza sexual. Frank contou: “Quase que imediatamente me senti cercado pela culpa, pelo Espírito Santo, por causa da minha infidelidade. Nunca havia experimentado nada como naquela semana seguinte. Era impossível tirar aquele sermão e aquele texto da minha cabeça.” Frank lutou com o que precisava confessar à sua esposa naquela semana. “Durante a semana de luta, a mensagem consistente que recebi de Deus era: ‘Sou grande o suficiente para lidar com o tumulto em sua vida que resultará da sua confissão.’” Deus deu a Frank fé para confessar honestamente e coragem para Cara responder graciosamente e, algum tempo depois, a pedido deles, iniciamos o aconselhamento matrimonial. O passo seguinte foi um ano de um ministério doloroso, mas definitivamente glorioso da Palavra e do Espírito. Na maioria dos encontros, Kevin desempenhou um papel importante a princípio e ocasionalmente ele e eu nos encontrávamos, algumas vezes para aconselhamento e encorajamento, outras para participar de uma cerimônia de renovação dos votos de compromisso.

Os problemas óbvios a serem tratados contemplavam o auxílio para a luta de Cara no enfrentamento da desilusão e do doloroso processo de perdão. Isso incluía ajudar Frank a produzir frutos de arrependimento ajudá-lo a reconstruir a confiança e, mais importante: ajudá-lo a enxergar e a se arrepender de coração do comportamento pecaminoso que fora exposto por aquela provação. A graça de Deus se mostrou maravilhosa. Frank demonstrou arrependimento consistente e de coração, e Cara demonstrou coragem, perseverança e graça surpreendentes. Mas nada daquilo foi fácil, especialmente para Cara. Havia altos e baixos, momentos de avanços e retrocessos, esperança radiante e profundo desespero, doces sorrisos e lágrimas amargas – mas sempre com a tão surpreendente graça de Cristo. Com frequência me vi recuar, assombrado com o poder do Redentor através da sua Palavra atuando na superação da devastação causada pelo pecado e por Satanás. As Escrituras que lhes falaram de modo relevante da graça e da esperança incluíam os seguintes textos:

  • “Eu é que sei que pensamentos tenho a vosso respeito, diz o Senhor; pensamentos de paz [plenitude]e não de mal; para vos dar o fim que desejais” (Jr 29.11). Essa passagem os ajudou a ver que Deus estava com eles, trazendo lenta, porém, firme esperança em lugar de desespero.

     

  • “[…] Pois eles mudaram a verdade de Deus em mentira, adorando e servindo a criatura em lugar do Criador, o qual é bendito eternamente. Amém” (Rm 1.25). Aqui, exploramos os vários substitutos que o coração erige no lugar de Deus, o cinismo e a descrença que cegam e fazem tropeçar.

     

  • “Aquele que não poupou o seu próprio Filho, antes, por todos nós o entregou, porventura, não nos dará graciosamente com ele todas as cousas?” (Rm 8.32). Conforme eles reconstruíam a confiança em Cristo e um no outro, foi importante explorarmos juntos o que significava “todas as coisas”. Vimos que isso incluía o perdão dos pecados, a suprema esperança e força para passarem pelo sofrimento que estava a caminho, o poder para perdoar e a doce promessa de eternas bodas com Jesus no céu.

     

  • “Não temas, porque não serás envergonhada; não te envergonhes, porque não sofrerás humilhação; […] Porque o teu Criador é o teu marido; e Senhor dos Exércitos é o teu Redentor; ele é chamado o Deus de toda a terra” (Is 54.4-5). O Senhor, que é o nosso ‘esposo’ e nos reconciliou consigo mesmo por grande preço, nos faz superar a vergonha e nos dá esperança para o futuro.

     

  • A história do filho pródigo (Lc 15.11-32). Essa história e, em especial, o tratamento maravilhoso dado por Timothy Keller em seu livro The Prodigal God 3 foi muito útil na identificação dos padrões básicos da carne no caso de Frank e Cara. É impressionante o modo como cada um deles se identificou com um irmão diferente na história. Tem sido um privilégio para Kevin, para mim (e para outros) caminharmos com Frank e Cara na medida que eles confiam e seguem a Cristo nessa estrada difícil. Ainda há muito trabalho de santificação à frente, mas a vida desse casal é um troféu da graça de Deus. Uma das minhas grandes alegrias tem sido ouvir Cara dizer: “Nunca acreditei que Deus poderia mudar o meu coração dessa forma,” e “Vejo a graça em todos os lugares.”

O CONSELHEIRO E A CONGREGAÇÃO

A nossa visão ministerial da Palavra inclui não apenas as convicções compartilhadas e o ministério entre pregador e conselheiro, mas também a existência dos vários espaços para a congregação, a fim de criarmos uma cultura de mutualidade. Oferecemos exposição e treinamento no aconselhamento bíblico na classe de novos membros, no treinamento de líderes e em duas turmas de treinamento de conselheiros. Nossa meta é equipar os membros da congregação para serem discípulos que fazem discípulos em casa, na igreja, na comunidade e por todo o mundo. Esperamos em breve oferecer treinamento em aconselhamento bíblico para outras igrejas locais centradas no evangelho para fazer disso uma parte do nosso cuidado missionário.

Tenho o privilégio de treinar diversas pessoas que estão servindo numa diversidade de ministérios. Kristina, ex-servidora no campus, acha que o treinamento em aconselhamento bíblico é muito útil no lar: “Como mãe de crianças pequenas, aplico os princípios do aconselhamento bíblico com maior frequência em meu próprio coração e na família. A Palavra de Deus é poderosa, e o ‘ministério face a face com a Palavra’ está muito presente em nossa casa.” Kevin aprova o treinamento como diretor-presidente da faculdade: “Antes das aulas, eu ia para as reuniões de mentoria sem muito preparo e separava pouco tempo posterior para reflexão sobre a próxima reunião. Aprendendo a tomar notas e separar tempo para preparar o meu tempo com os alunos, o trabalho se mostrou um aprendizado frutífero.” Mike é conselheiro em uma missão de resgate local: “As aulas contínuas sobre aconselhamento de homossexuais foram excepcionais. Enquanto eu assistia às aulas, pedi para aconselhar duas pessoas que lutavam com a atração pelo mesmo sexo. Por causa do nosso estudo, pela primeira vez senti compaixão por aquelas pessoas que desejavam mudar suas vidas, mas não sabiam como fazê-lo”. Que alegria é equipar as pessoas de Deus para ministrarem a Palavra que transforma vidas em diferentes lugares – “em todos os lugares onde há maldição”.

CONCLUSÃO

O pregador, o conselheiro e a congregação, todos ministrando a Palavra da vida a este mundo devastado – é uma bela visão. Já alcançamos nosso objetivo? É claro que não. Temos apenas algumas histórias de sucesso para contar. Mas temos visto o suficiente da relevância e do poder da Palavra para continuar a jornada. Apesar de tudo, esta é a visão de Deus, não nossa: “E ele mesmo concedeu uns para… pastores e mestres, com vistas ao aperfeiçoamento dos santos para o desempenho do seu serviço, para a edificação do corpo de Cristo, até que todos cheguemos à unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus, à perfeita varonilidade, à medida da estatura da plenitude de Cristo” (Ef 4.11-13).

Texto extraído do LANÇAMENTO
“As Escrituras e o Aconselhamento”

Hoje enfrentamos um tremendo enfraquecimento da da confiança na Biblia como Palavra de Deus. O mesmo se pode dizer tanto do pastor que oferece aconselhamento em seu gabinete quanto do irmão que se encontra informalmente com uma pessoa em conflito e lhe oferece ajuda, ou ainda um lider de pequeno grupo que não sabe o que dizer a um dos participantes que está sofrendo. Precisamos reconquistar a confiança na Palavra de Deus como res – posta suficiente às grandes questões da vida que hoje enfrentamos. Precisamos entender como a Biblia nos capacita nas competèncias do aconselhamento, sendo ela uma ferramenta indispensável para saber lidar com as complexas questões que a vida nos apresenta.

As Escrituras e o Aconselhamento se divide em duas seções de nove capítulos cada:

  1. A Purte Um ajuda o leitor a desenvolver uma robusta visão bíblica da suficiência das Escrituras para a “vida e a piedade”, levando a uma crescente confiança na Palavra de Deus.
  2. A Parte Dois leva o leitor ao aprendizado de como usar as Es – crituras no processo de aconselhamento. Essa seção demonstra como um firme entendimento da suficiência das Escrituras conduz a uma crescente competência na antiga arte da ministração pes – soal da Palavra de Deus a outros.

O que é o aconselhamento bíblico e seus requisitos

O que é o aconselhamento bíblico e seus requisitos

Texto extraído do livro “Teologia do Aconselhamento Bíblico”

 

A NATUREZA DO ACONSELHAMENTO

O que é aconselhamento? É importante fornecer uma definição de aconselhamento bem no início, a fim de sabermos sobre o que estamos falando. Esta é a definição que eu uso neste livro: Aconselhamento é uma conversa em que uma das partes com questões, problemas e dificuldades procura auxílio de alguém que acredita ter respostas, soluções e ajuda.

Esta definição é, intencionalmente, inclusiva. Muitas pessoas com os mais diferentes comprometimentos de aconselhamento poderiam mapear todas as formas de premissas conceituais e práticas para esta definição, mas eu creio que esta cobre o aconselhamento que todos nós fazemos, quer seja em um nível leigo ou profissional, ou feito com comprometimento religioso ou secular. Permita-me fazer duas observações sobre esta definição.

Primeira, de acordo com esta definição, pessoas estão aconselhando o tempo todo. Você está aconselhando o tempo todo. Aconselhamento é o que acontece quando uma mulher com um diagnóstico de transtorno afetivo sazonal, fala no escritório de um homem graduado em Yale que é licenciado por seu estado, cobra uma taxa pela conversa e envia a conta para a companhia de seguro dela por isto. Aconselhamento é, também, o que acontece quando um pastor fala com uma mulher que está considerando se separar do seu marido e procura seu conselho sobre suas opções. Aconselhamento é o que acontece quando um chefe chama um empregado no escritório para discutir um problema a respeito do desempenho no trabalho. Aconselhamento é o que acontece quando um aluno do quarto ano fala para seus pais a respeito de crianças que lhe são más na escola. Isto é o que acontece quando um homem chama seu amigo para pedir um conselho sobre uma promoção que deseja fazer no trabalho.

Aconselhamento, como todos estes exemplos indicam, pode ser formal ou informal, altamente relacional ou mais profissional, religioso ou secular. Aconselhamento acontece sempre que pessoas com questões, problemas e dificuldades procuram falar com alguém que acreditam ter respostas e soluções e que podem oferecer ajuda. Todos nós fazemos isto o tempo todo. Não existe pessoa ou grupo de pessoas, que pode reivindicar direito exclusivo ou prerrogativa de ser um profissional de aconselhamento. Segundo, esta definição tem dois lados. Por um lado, aconselhamento requer que uma parte da conversa tenha questões, problemas e dificuldades. Um membro da conversa de aconselhamento deve ter um dilema.

Os dilemas potenciais são enormes. As questões, problemas e dificuldades que consomem uma conversa de aconselhamento são uma longa lista que desafia enumeração. A lista inclui decisões sobre com quem casar, para que escola ir, que emprego ocupar. Envolve aconselhar aqueles que são suicidas, que estão em casamentos abusivos,viciados em drogas, aqueles que ouvem vozes estranhas. Conversas de aconselhamento incluem dúvidas se alguém deve confiar em Jesus Cristo, que permissões a Bíblia concede para divórcio e novo casamento, se o Espírito Santo é uma parte vibrante da vida diária de alguém. Tudo isto e outras milhares, são as espécies de coisas que as pessoas feridas colocam sobre a mesa quando elas procuram auxílio por meio da conversa que nós, frequentemente, chamamos de aconselhamento.

Por outro lado, o aconselhamento requer que a outra parte na conversa tenha respostas, soluções e ajuda. Isto significa que uma parte na discussão deve oferecer auxílio para o dilema experimentado pela pessoa que está lutando. A partir da perspectiva deste livro, e o largo movimento de aconselhamento bíblico, aconselhamento não é mera comiseração. É mais do que simplesmente passar um tempo com a pessoa. Para que o aconselhamento ocorra, um participante na conversa deve caminhar com a pessoa que está lutando, provendo respostas, soluções e ajuda.

Para os nossos propósitos, nos referiremos à pessoa com questões, problemas e dificuldades como o aconselhado. Consideraremos a pessoa com respostas, soluções e ajuda como o conselheiro. Aconselhamento é uma conversa que um aconselhado tem com uma pessoa que ela acredita ser um conselheiro.

O QUE O ACONSELHAMENTO REQUER

Agora que nós temos uma definição do que é aconselhamento, eu quero expor o que o aconselhamento requer. Entretanto, será muito útil discutir, primeiro, o que ele não requer. Aconselhamento não requer qualquer aparato de profissionalismo. Embora nós, frequentemente, retratemos o aconselhamento como uma atividade muito profissional, ele não requer que você seja um especialista a fim de realizá-lo. De fato, se o que eu expus acima é verdade, a maioria das pessoas que fazem aconselhamento (professores, pais, colegas de trabalho, amigos, membros da igreja, etc.), não possui conhecimento formal para tal. Nós frequentemente temos dado muita importância aos aparatos do profissionalismo, como escritórios formais, formação acadêmica distinta e licenças do estado, nada disso, porém, é requerido para se fazer aconselhamento – ou mesmo para se fazê-lo bem. Eu devo, também, fazer outra afirmação, potencialmente embaraçosa, porém necessária. No aconselhamento, não há exigência que a pessoa que ministra o conselho tenha resposta corretas, soluções exatas ou auxílio efetivo. Não entenda errado, nós devemos querer que as pessoas façam aconselhamento a fim de oferecer respostas sadias, assistência e auxílio, mas infelizmente, muitas pessoas não fazem isto.

Hoje, como você que lê este livro, conselheiros por toda a parte do mundo – se profissional ou não profissional, treinado ou não treinado, experiente ou inexperiente – oferecem conselho que é absolutamente terrível. Uma mãe falará para sua filha se divorciar do seu marido quando ela não deveria fazer isto. Um estudante universitário falará para seu amigo não se estressar diante de um problema esmagador, que estará na mente do seu amigo quando este der cabo de sua própria vida. Neste momento, conselheiros estão dizendo a homens que odeiam a atração sexual que sentem por outros homens que é normal ser gay.

Nesta tarde, conselheiros serão duros com as pessoas quando deveriam ser gentis. Outros serão irreverentes quando deveriam ser firmes. Hoje, alguns conselheiros, enviarão uma mulher com os olhos roxos de volta para casa onde ela vive com seu marido abusivo. Infelizmente, não é requerido que uma pessoa que pratique aconselhamento seja boa naquilo que faz. Então, o que é requerido para se fazer aconselhamento? Se você não precisa de graduação ou habilidade – coisas que a maioria supõe ser uma obrigação – então, o que você precisa?

Para aconselhar, a única coisa que o conselheiro deve fazer é articular alguma visão da realidade que compreenda o dilema do aconselhado e oferecer uma resposta àquele dilema. Todos estão comprometidos com certa forma de ver a vida. Algumas pessoas chamam isto de cosmovisão. Qualquer que seja o rótulo, é uma visão sobre a vida, o que ela é e como funciona. Esta visão da vida pode ser sábia ou tola. As pessoas podem ou não ser autoconscientes sobre a visão de vida que têm. Todavia, todas possuem alguma visão.

Alguém envolvido no aconselhamento terá uma visão de vida que inclui quem somos, o que está errado conosco, o que deve estar certo e o que seria necessário para corrigir o problema. Quando alguém está conversando sobre um problema que está passando, a outra pessoa na conversa está articulando um entendimento do que significa ser humano e experimentar a vida. Ele está explicando seu entendimento do por que a vida da pessoa não parece estar funcionando para ela. Ele está provendo seu entendimento de qual é o padrão normativo para a vida da pessoa – isto é, o padrão do qual a pessoa se afastou e que trouxe o problema. Finalmente, ele tem algum senso de como ajudar a pessoa a se mover do dilema para a solução.

Teologia do Aconselhamento Bíblico: fundamentos doutrinários do ministério de aconselhamento

Por mais de quatro décadas, líderes do movimento de aconselhamento bíblico tem argumentado que aconselhamento é um ministério da Palavra, assim como pregação ou missões, e como um ministério deve ser definido a partir de uma sólida teologia bíblica em vez de princípios seculares da psicologia. Teologia do Aconselhamento Bíblico é um marco que expõe as principais convicções teológicas que fundamentam o ministério de aconselhamento e oferece sabedoria pratica para o conselheiro. Dr. Heath Lambert orienta os leitores através das várias categorias da teologia, mostrando como cada uma aborda as preocupações do cotidiano que os conselheiros bíblicos lidam. Os ricos insights teológicos são ilustrados através de histórias narradas nas sessões de aconselhamento.

Quem está no comando: Alma ou Cérebro

Quem está no comando: Alma ou Cérebro

Texto extraído do livro “A Culpa é do Cérebro – Capítulo 1”

“Acho que tenho um desequilíbrio químico. O que devo fazer?”

“Meu filho deveria tomar Ritalina?”

“Por que meu pai está agindo desta forma? A doença de Alzheimer o mudou tanto.”

“Desde que sofreu o acidente, meu filho tem sido demitido de 25 empregos. Será que ele vai ter que morar conosco pelo resto de nossa vida?”

“Eu estou com raiva porque Deus me fez um alcoólatra. Outras pessoas não precisam lidar com isso. Por que ele me deu esta doença?”

“É duro parar de frequentar bares de gays e ver pornografia na internet. Como posso parar com isso uma vez que tenho uma orientação homossexual?

Estas são algumas das novas perguntas que fazem com que ajudar outras pessoas pareça algo mais complicado hoje em dia. Gostamos de pensar que a Bíblia é suficiente nas questões críticas da vida, mas estas questões desafiam essa suposição. Afinal, o que teria a Bíblia a dizer acerca de desequilíbrio químico, Ritalina ou alcoolismo como doença? Talvez todo amigo, conselheiro, discipulador e pastor deveria ter seu conhecimento bíblico complementado por cursos em genética, neuroquímica ou doença e dano cerebral.

Porém, há uma abordagem alternativa. Considere isto: o que é ou não preciso mais necessariamente para uma maior sofisticação no entendimento do cérebro. O inverso, o que seria necessário está examinado nas Escrituras em maior profundidade e de modo prático sobre aquilo que é relevante nestas questões. Então podemos utilizar as observações das ciências cerebrais a fim de ilustrar a posição bíblica. Nossa tarefa começa ouvindo a discussão que tem existido por séculos. Ela diz respeito à alma (também chamada de mente), o cérebro e como eles se relacionam.

A ALMA E O CÉREBRO

Por séculos o cérebro tem sido objeto da fascinação humana. “Seria este realmente o centro da alma elusiva? Se for, onde exatamente está a alma?” questionam os físicos e filósofos. Há muito tempo, por volta do século 15 a.C., o físico Alemão Alkmeon de Crotona propôs uma razoável teoria sadia. Ele sugeriu que a informação sensória tal como a visão e som eram mais terrenos e ocupavam distintas áreas cerebrais. Pensamentos, por outro lado, eram espirituais. Eles eram parte da imortal, alma imaterial e não poderiam ser fisicamente localizados.

Platão declarou que o cérebro era supremo entre os órgãos do corpo, porém suas razões foram peculiares. Ele pensava que a parte mais baixa que rodeava o cérebro, agora denominada de medula, seria onde Deus plantou e enclausurou a alma. Aristóteles não estava tão seguro disso. Ele pensava que o coração era o local onde se encontrava a alma humana. O cérebro seria meramente um tipo de radiador ou uma “chaleira” que tanto aquecia como esfriava o sangue.

Estratão de Lâmpsaco encontrou a alma entre as sobrancelhas! Shakespeare, seguindo o filósofo grego, escreveu que a alma estava na pia mater, um dos folhetos meníngeos que recobrem o cérebro. Em Troilo e Créssida (ato 2, cena 1) ele critica Ajax de Thersites: “Sua pia mater não é digna de um décimo de um pássaro”. Mais popular foi a ideia que a alma reside nos fluidos que enchem os ventrículos cerebrais. Os ventrículos, pensavam alguns clérigos, era um lugar no cérebro que parecia ter espaço suficiente para abrigar a alma. Todos têm uma teoria acerca do relacionamento entre o cérebro e a alma, e a maioria deles foi horrivelmente imprópria. Na verdade, foi sugerido que, ao menos nas ciências cerebrais, “a grandeza de um homem é somente medida pela quantia de tempo que sua ideia impede seu progresso.”

Alguns poderiam argumentar que tal definição de grandeza ainda é relevante para o cérebro ou para a neurociência, mas ninguém pode negar o seu dramático desenvolvimento nos últimos dois séculos. Este progresso pode ser atribuído, em parte, aos avanços tecnológicos. Microscópios eletrônicos, PETscans, e novos aparelhos de imagem têm criado uma janela para o cérebro, sem paralelo. Apenas há poucas décadas tínhamos nosso primeiro vislumbre do modo que as células nervosas se comunicavam umas com as outras. Hoje a pesquisa do cérebro é reveladora dos mistérios dos fundamentos genéticos que dá suporte àquelas células e descobre os níveis das substâncias químicas que estão envolvidas na rede de comunicação cerebral. Armados com esta sofisticação tecnológica, os estudiosos do cérebro têm capacidade de saciar sua curiosidade científica com “rédeas soltas”. O resultado tem sido o fundamento da pesquisa pura que, nos próximos 20 anos, muito provavelmente levará a avanços que salvam vidas em doenças tais como Alzheimer e Parkinson. Para estudiosos dos cérebro estes são, na verdade, tempos “inebriantes”.

Como espectadores podem não saber a diferença entre tomografia por emissão de pósitron e de potenciais evocados, a extensão de nosso interesse nas ciências cerebrais poderia ser de sentarmos nas arquibancadas e aplaudir. Não entendemos o que os cientistas do cérebro estão fazendo, mas parece bom, e os comentários ocasionais sobre a possibilidade de aplicação da pesquisa são particularmente encorajadores. Assim, nós dizemos, “mantenham o bom trabalho; e que o Instituto Nacional de Saúde possa conseguir mais e mais dinheiro”. Isto, entretanto, não é dizer o suficiente.

O QUE DIZ A PALAVRA DE DEUS?

Embora as ciências cerebrais sejam sofisticadas e impressionantes, a premissa deste livro é que elas estão debaixo de algo muito mais espetacular. Elas estão debaixo da Bíblia, e seus resultados deveriam ser avaliados através da grade de interpretação das categorias bíblicas. Elas podem parecer audaciosas de início. Afinal, o que poderia a Bíblia oferecer às ciências cerebrais, especialmente considerando-se as evidentes ideias erradas do cérebro e da alma que foram prevalentes nos tempos bíblicos? Não faria mais sentido dizer que a Bíblia é autoritativa no reino espiritual, e as ciências cerebrais são autoritativas quanto ao cérebro? Isso pode soar plausível, no entanto soa mais como uma solução de acomodação onde na realidade se rebaixa o Deus da Escritura e exalta a visão humana. Seria como dizer:

“Existem algumas áreas de investigação onde não perguntarei primeiro – o que Deus diz?” A verdade é que todo o conhecimento começa, conforme indicado em Provérbios, com “o temor do Senhor”. Todo conhecimento começa com primeiro se perguntando – “O que diz o Senhor? Como Deus quer que vejamos isso?” É assim que estudamos sobre sexo, dinheiro e economia, política, e tudo o mais que seja digno de um pensar cuidadoso. Tudo na vida deveria estar debaixo da autoridade da Escritura.

Figura – Três possíveis relacionamentos entre Bíblia e ciência.

O problema em estabelecer uma supervisão bíblica da ciência cerebral é que, à primeira vista, parece haver muito poucos princípios bíblicos disponíveis para nos guiar. Aqui estão três deles:

1. Deus criou todas as coisas. Portanto, Deus criou o cérebro.

2. Deus nos chamou para sermos estudantes da criação. Portanto, criação, inclusive o cérebro, pode ser estudada e parcialmente entendida.

3. Estudantes da palavra de Deus devem ser pessoas de integridade e que falam a verdade. Portanto, cientistas deveriam ser cuidadosos em suas investigações e verdadeiros em reportar seus resultados. Eles não deveriam fabricar ou distorcer resultados a fim de agradar suas agendas.

Estes são bons e verdadeiros princípios, mas eles não nos ajudam a trazer sabedoria da Bíblia para dentro de uma discussão mais técnica. O resultado é que, embora em teoria coloquemos a Bíblia acima das ciências cerebrais, na prática nós não usamos a palavra de Deus para controlar a interpretação dos dados neurocientíficos. A Bíblia acaba parecendo com um chefe de estado que não tem poder verdadeiro – um rei fantoche, na melhor das hipóteses.

Infelizmente, a Bíblia tem perdido sua autoridade funcional nas ciências biológicas há bastante tempo. Nosso ponto de virada foi na epidemia de cólera nos anos 1800. Durante as primeiras duas epidemias em 1832 e 1849, a igreja foi considerada o intérprete autoritativo e orientador da epidemia. Tristemente, a partir desta prestigiosa posição, a igreja saiu com explicações simplistas e incompletas. Ela costumeiramente explicava o surto de cólera como evidência da retribuição divina contra o pecado. Isto foi especialmente conveniente, pois costumeiramente as classes mais baixas que foram afetadas, não o povo da classe média e alta financeiramente estável que eram os membros típicos da igreja.

Apesar de ser verdade que a doença pode ser um resultado da disciplina divina e pode indicar uma necessidade por sondar nossa alma e arrepender-se, é também verdade que a doença pode não estar relacionada ao pecado pessoal. Na verdade, dizer que doença é sempre o resultado de pecado pessoal é, de fato, uma velha heresia que remonta ao tempo de Jó e seus conselheiros. Então, por que a igreja não ensinou nos anos 1800 que pecado e doença não estão necessariamente relacionados? Por que não encorajou observações precisas do mundo criado (embora caído) de maneira a haver pleno entendimento das epidemias? Talvez as lentes teológicas da igreja não fossem refinadas e eram incapazes de interpretar aqueles problemas significativamente.

Este uso inexato da Escritura eventualmente teve seu preço. Pelo ano de 1866 da epidemia de cólera, ninguém buscou na igreja por respostas úteis. Ao contrário, o foco mudou para as iniciativas da saúde pública, e o reino do governo legítimo da Escritura foi desse modo estreitado. Em vez da Escritura reinar sobre esta, a ciência reinava em seu próprio reino, e à Escritura foi dado um pequeno pedaço menor que uma propriedade privada.

Deus ainda estava nos céus, como a maioria dos americanos se apressariam em afirmar. Ainda que de fato sua existência tenha cessado de ser uma realidade central e significante em suas vidas. Os alertas da perspicácia divina em 1832 mostraram-se justificados; preocupações materiais e hábitos empíricos de pensamento não apenas tinham sido bastante enganosos como deslocaram as preocupações espirituais das gerações anteriores. Os americanos pareciam estar bem no caminho para se tornar a terra do “ateísmo prático”.

Hoje nas ciências cerebrais a situação é similar. A Bíblia não foi derrotada, porém se tornou irrelevante. Muitos pesquisadores não encontram mais utilidade para ideia de alma imaterial. Todos os nossos comportamentos são alegadamente explicados pela química cerebral e pela física.

Você tem familiaridade com pesquisa em alcoolismo? A pesquisa em si é fascinante, mas pode chegar à nossa porta envolta numa teoria que diz que não há alma. Beber até a intoxicação agora é chamado de doença que vem do corpo, não da alma. Se você for sugerir que pecado causa embriaguez, você poderá ser saudado do modo que os modernos possam saudar Estratão de Lâmpsaco e sua teoria da sobrancelha. Você poderia ser um curioso, embora uma irrelevante voz vinda do passado.

Considere alguns outros problemas práticos. Digamos que um pastor esteja aconselhando um membro feminina da igreja que está bastante deprimida. Por anos eles têm lutado juntos, confiantes que existem respostas bíblicas para a depressão dela. Então um vizinho da pessoa deprimida lhe conta de sua própria experiência com uma medicação antidepressiva. A mulher deprimida vai ao psiquiatra de seu vizinho, começa a tomar medicamento e sua depressão a deixa. Está fora de questão que esta mulher vai considerar a ciência cerebral como sendo mais visionária e autoritativa em relação a seu problema, do que a Bíblia. Ela tinha tentado ambos, e a medicação se mostrou mais eficaz.

O que poderíamos falar sobre o estudo de caso de abertura no livro Listening to Prozac [Ouvindo o Prozac]? É descrito um homem cujo interesse em pornografia termina logo após começar a tomar uma droga. Você pensa que este homem sempre chamará a pornografia de pecado? Claro que não. Não foi uma mudança espiritual que removeu seu desejo; foi a medicação que manipulou a química cerebral. Portanto, ele questionará, se alma existe de fato, e se pode ser mudada pela prescrição medicamentosa, não pela pregação do Evangelho.

E a lista continua. Você já conhece os debates acerca da base biológica da homossexualidade. Você sabia que ira, desobediência aos pais, ansiedade, abuso de drogas, furto e adultério são também apontados como problemas cerebrais em vez de problemas relacionados com o pecado? A pesquisa do cérebro raramente por si mesma tira essas conclusões. Mas, uma vez que a pesquisa é sussurrada até o noticiário das seis horas, e para popular psique, é muito frequente ser circundada por estas interpretações.

Hoje em dia, como cristãos, queremos evitar ouvir o erro eclesiástico de 1800. Desta vez, queremos ouvir o que as pessoas estão dizendo acerca do cérebro, desenvolver claras e poderosas categorias bíblicas, e abençoar a ciência e a igreja neste processo.

A CULPA É DO CÉREBRO?

Distinguindo desiquilíbrios químicos, distúrbios cerebrais e desobediência

Pesquisas sugerem que mais e mais comportamentos são causados pela função ou disfunção cerebral. Mas é sempre legítimo culpar o cérebro pelo mau comportamento? Como posso saber se o “meu cérebro me faz fazer isso”? Enxergando problemas cerebrais por meio das lentes das Escrituras, Edward T. Welch faz distinção entre os distúrbios cerebrais genuínos e os problemas enraizados no coração. Entender essa distinção permitirá que pastores, conselheiros, famílias e amigos ajudem os outros – ou a si mesmos – a lidar com as suas lutas e responsabilidades pessoais. Enquanto se concentra em alguns distúrbios comuns, Dr. Welch apresenta um conjunto de medidas práticas adaptáveis a uma série de condições, hábitos ou vícios.

Uma Busca Enganosa

Uma Busca Enganosa

Todos buscam aquilo que acreditam que lhes trará felicidade. Buscamos em muitos lugares e durante muito tempo por algo que acreditamos nos dar satisfação. O que seria, não sabemos. Apenas sabemos que algo está faltando. Continuamos procurando, sempre em busca de algo, sem jamais encontrar satisfação real nas coisas mundanas. Ou tentamos preencher este vácuo com relacionamentos importantes. De repente, encontramos alguém especial; nos apaixonamos; casamos e esperamos que essa nova pessoa preencha o vazio dentro de nós.

Podemos ainda tentar preencher essa lacuna com uma carreira promissora. Ou pensar que o nosso vazio pode ser preenchido com dinheiro e religião. Talvez, se tivéssemos m0ais dinheiro na conta bancária, seríamos mais felizes. Talvez busquemos preencher esse vazio interno ocupando nosso calendário com atividades religiosas. Podemos até começar a frequentar uma igreja, ou até participar do grupo de estudo bíblico ou ainda tentar preencher essa lacuna existencial recorrendo a vícios destrutivos.

Talvez busquemos emoções nas drogas, ou em apostas inconsequentes em jogatinas. Podemos ter um caso extraconjugal. Decidimos quebrar as regras. O que quer que façamos, estamos sempre em busca de um êxtase emocional que essas coisas podem oferecer. Essa busca fútil pelo que está faltando em nossas vidas aponta para um eminente homem que viveu há dois mil anos. À primeira vista, ele era a pessoa menos provável a precisar nascer de novo. Esse homem era estritamente religioso e altamente bem-sucedido, um homem de moral ilibada e muito respeitado por todos.

Ele sabia muito sobre Deus e tinha uma cabeça cheia de conhecimento sobre as Escrituras, sabia a Bíblia de cor, melhor do que qualquer outra pessoa. Ele era um líder espiritual, reverenciado por todos que o conheciam. Seu nome era Nicodemos. Porém, esse indivíduo próspero sabia que algo estava faltando. O que quer que fosse esse algo, ele não sabia do que se tratava. Nicodemos era muito bem relacionado no nível político mais elevado da estrutura vigente e se encontrava no topo da hierarquia religiosa de sua época.

Ele era reverenciado por causa de seu status elevado e de sua notória influência. Todas as classes da sociedade o admiravam, de escravos a advogados, até líderes religiosos, pois ele tinha todas as respostas espirituais capazes de resolver seus problemas. Eles o procuravam para que lhes falasse sobre Deus, para que lhes interpretasse as Escrituras. Queriam que ele lhes dissesse o que a Bíblia queria dizer. Todos o escutavam falar sobre como se deve viver. No entanto, Nicodemos tinha tantas perguntas sem respostas quanto qualquer outra pessoa — talvez até mais.

Ele havia procurado em todo lugar por essas respostas, até mesmo na religião. Mesmo em sua busca por viver uma vida correta, ele não achou nada que satisfizesse sua alma vazia. Essa insatisfação esmagava suas entranhas, como se o devorasse vivo. Onde poderia Nicodemos encontrar suas respostas? Ele ouvira falar de Jesus de Nazaré. Aliás, quem não tinha ouvido falar? Todos o conheciam. Não se falava em outra coisa. Nicodemos certamente havia recebido relatos sobre os ensinamentos profundos daquele mestre itinerante e ouvira falar dos milagres; ele sabia das numerosas multidões que seguiam Jesus por toda parte.

Dadas essas credenciais, Nicodemos tinha que conhecê-lo.Porém, tal encontro precisava ser secreto. Uma pessoa como Nicodemos não poderia ser vista com Jesus, pois isso certamente comprometeria sua imagem. Esse encontro secreto precisava acontecer dentro das cortinas da noite. Em sua busca frenética por aquilo que faltava, Nicodemos esperava encontrar resposta naquele pregador peregrino. Ele queria que Jesus o apontasse a direção certa, ou que talvez o oferecesse uma nova perspectiva ou compartilhasse alguns pontos de vista, ou ainda que lhe sugerisse alguns passos práticos.

Você também está em busca de respostas? Está exausto de procurar significado na vida? Eu o encorajo a buscar aquele que conhece a verdade. Olhe apenas para aquele que tem as respostas daquilo que falta na sua vida. Estou falando do próprio Criador da vida. Eu te desafio a ouvir o que Jesus disse a Nicodemos, porque é exatamente o que ele diria a você.

Aquilo que Nicodemos buscava há dois milênio, é precisamente o que necessitamos hoje. A natureza humana não mudou; nossas necessidades são as mesmas; não precisamos de instruções de autoajuda; não precisamos meramente mudar nosso comportamento; não precisamos de uma vida melhor ou de sucesso ou de um novo desafio. Antes, o que precisamos é da vida nova que somente Deus pode nos oferecer. Precisamos da vida que é distinta de tudo aquilo que o mundo pode nos dar, uma vida radicalmente diferente de tudo que tenhamos experimentado antes. Precisamos de vida eterna. E esta vida nova vem exclusivamente através do novo nascimento. Enquanto examinamos este encontro entre Jesus e Nicodemos, podemos descobrir verdades sobre o nosso passado. Antes de nascermos de novo, não éramos diferentes daquele velho líder religioso. Ao sermos apresentados a Nicodemos, aprenderemos muito sobre nossa vida passada, se estivermos em Cristo. O que aquele homem precisava descobrir, há tantos anos, é o que experimentamos em nossas vidas através do novo nascimento.

(Texto adaptado a partir do capítulo 2 do livro “Vida Nova em Cristo” de Steven Lawson. O livro é um estudo na passagem de João 3, onde é registrada a conversa de Nicodemos com Jesus.)

Vida Nova em Cristo – Steven J. Lawson

Sobre o livro:
O que acontece quando confiamos em Cristo para a salvação? O evento mais importante na vida de uma pessoa é o novo nascimento. No entanto, muitos cristãos teriam dificuldade em descrever exatamente o que é esse evento, sobretudo o que ele significa para os próximos passos de sua caminhada com Deus.

• O que acontece quando nascemos de novo?
• Tudo em nossa vida muda imediatamente?
• É apenas uma espécie de recomeço espiritual, uma nova chance para tentar acertar?
• O que acontece quando fracassamos? Isso significa que, essencialmente, não nascemos de novo?

Com um coração pastoral e a visão aguçada de um mestre, Steven Lawson examina cuidadosamente o encontro entre Jesus e Nicodemos, como descrito no capítulo 3 do evangelho de João, para descobrir a natureza desse novo nascimento espiritual. Steve nos mostra a necessidade do novo nascimento, como Deus muda nosso coração por meio dele e o que vem depois, desde o batismo e o envolvimento numa igreja local até o modo como devemos lidar com dúvidas e problemas.